Nesta semana, pais e responsáveis denunciaram que os alunos da rede municipal de ensino estão sem receber fardamento, mesmo com a Prefeitura de Manaus gastando cerca de R$ 8,5 milhões com empresas para confeccionar as vestimentas. A empresa L P do Vale, uma das empresas responsáveis pela confecção e fornecimento dos fardamentos, alegou que os uniformes não foram entregues porque não receberam um centavo do contrato firmado com a gestão David Almeida (Avante).
A L P do Vale foi contratada por R$ 5,3 milhões em novembro de 2024, para fornecer as camisetas, mas segundo a mãe do proprietário, Ana Perrone, que recebeu a equipe do Radar na sede da empresa, localizada no bairro São Jorge, zona Oeste de Manaus, todos os pagamentos que seriam realizados pela prefeitura foram anulados.
“De início, essa licitação ocorreu em abril de 2024. Na época, 4 empresas ganharam lotes para a confecção de camisas e bermudas [BDS, L P DO VALE, CONFETÊXTIL E PI CONFECÇÕES]. Uma, inclusive com um valor maior que daqui da LP do Vale [referindo-se a BDS Confecções Ltda]. De todo modo, os diários que saíram foram republicados, a licitação é do ano passado e todos os pagamentos que publicaram no Diário, foram anulados. Não recebemos um centavo e não prestamos nenhum serviço”, disse.
Prefeitura agiu de má fé?
Ainda segundo a empresária, a L P do Vale junto com Confetêxtil que foi contratada por R$ 3,1 milhões para fornecer as bermudas do uniforme escolar tiveram suas contratações republicadas, mesmo sem receber nada. Além disso, ela afirmou que a empresa do seu filho precisou lutar no Tribunal de Contas do Amazonas (TCE-AM) para garantir que não fosse prejudicada na licitação.
“Eu ainda entrei com um processo no Tribunal de Contas do Estado do Amazonas, contestando que o valor da camisa de uma das empresas estava 36 reais a unidade, enquanto a minha estava 19. Não sei se esse não foi um dos motivos que não me pagaram, eles pegaram eu e a Confetêxtil e republicaram as contratações da licitação que ocorreu no ano passado. Nos fazendo de bestas”, finalizou a empresária.
Ela conta que em meio a esse processo todo, passaram-se quase um ano, e que já nem tem mais interesse em dar continuidade ao contrato porque os valores negociados na época do certame (R$ 19 por camisa) estão defasados e não compensam mais os gastos com produção. Não se sabe o motivo pelo qual a contratação do ano passado -2024- foi republicada novamente dia 07 de fevereiro.
Propaganda de David pode ter prejudicado crianças
Um dos motivos que os fornecedores especulam e que pode ter travado a compra de fardas foi justamente porque os uniformes adquiridos tinham o famoso mosaico colorido que foi muito usado pela gestão de David Almeida para pintar espaços públicos, o que chegou a ser proibido pela Justiça do Amazonas, em setembro do ano passado.
Inclusive, a empresária ouvida pelo Radar entregou à reportagem uma amostra dos uniformes que seriam fabricados pelas empresas L P do Valle e Confetextil. A amostragem obtida contém vários mosaicos tanto na camisa, quanto na bermuda, veja:
Apesar da suspeita, a Prefeitura ainda não esclareceu o motivo de ter travado a aquisição de uniformes e se toda essa demora possui ligação com os mosaicos.
Outras empresas também não receberam
As empresas BDS Confecções e PI Confecções também venceram licitações de R$ 4 milhões e R$ 5 milhões, respectivamente, para fornecimento do uniforme escolar. No entanto, o Portal da Transparência mostra que essas empresas também não receberam nem um décimo do valor licitado. A BDS recebeu exatos R$ 34,65 e a PI recebeu R$100.000,00 (cem mil reais) -ver documentos no final da matéria-.
Destas duas empresas, o Radar ainda aguarda respostas sobre a entrega de algum fardamento à Semed. A reportagem também questionou a pasta de educação sobre o motivo dela ter republicado os contratos com a LP do Valle e a Confetextil em fevereiro deste ano, mesmo após ter anulado todos os empenhos que fez às empresas e segue aguardando um retorno.
Confira os documentos
